Um bate papo com Adilio, o craque da camisa 8.
Adilio autografa o manto da Flapel
Criado no Flamengo, clube que defendeu por grande parte de sua carreira, Adílio atuou ao lado de Zico e Andrade, formando um dos melhores meio-campos da história do Flamengo.
Com esse time, o Flamengo conquistou suas maiores glórias, incluindo a Taça Libertadores da América e o Mundial Interclubes de 81, e os Brasileiros de 80, 82,83 e 87. Outros títulos na carreira de Adílio incluem as Taças Guanabaras de 78, 79, 80, 81, 82,84, as Taças Rio de 83, 85 e 86 e os Campeonatos Cariocas (Estadual do Rio de Janeiro a partir de 1979) de 78, 79, 79 (houve dois torneios estaduais em 1979), 81 e 86. Adílio era um jogador de rara habilidade e criatividade, dono de um passe perfeito e adepto a um estilo de jogo clássico.
Contudo, também soube ser decisivo em sua carreira, como quando marcou o segundo gol do Flamengo na vitória por 3 a 0 sobre o Liverpool, na final do Mundial de Clubes de 1981, ou quando fez o terceiro gol na vitória por 3 a 0 sobre o Santos na decisão do Campeonato Brasileiro de 1983.
Adílio atuou no Flamengo entre 1975 e 1987, quando teve a oportunidade de vestir a camisa rubro-negra em 615 partidas, o que faz dele o terceiro jogador com maior número de jogos disputados pelo Flamengo. Batemos um papo com o craque que entre boas historias nos contou a importância da pelada na formação dos atletas profissionais como ele.
Confira um pouco desta conversa com um dos mestres do meio de campo:
FLAPEL: Quais as suas lembranças mais antigas envolvendo as peladas?
ADILIO: Desde muito pequeno eu jogava na rua. Fui criada na Cruzada São Sebastiao no Leblon e ainda pequeno jogava com os amigos que tinham vindo da Favela do Pinto, que ficava onde hoje esta a Selva de Pedra. Jogávamos nos terrenos baldios do bairro, que naquela época ainda existiam. Um dos melhores era onde hoje esta a Delegacia Anti Sequestro ao lado da 14 DP. Também fazíamos boas peladas no Jardim de Alah. Adolescente, pulava o muro do Flamengo para jogar futebol nas quadras de futebol de salão. Fiz tanto isto que o vigia da época desistiu de me botar para fora e aos poucos foram me descobrindo. Aprendi quase tudo na rua e nas peladas de campinhos de terra ou grama batida. Jogava com moleques maiores e fiquei logo esperto em escapar de faltas e passar rápido a bola. Levei tudo comigo para o time profissional do Flamengo quando cheguei la.
O craque batendo bola no campo da Flapel
FLAPEL: Adílio, qual a importância da pelada na formação de um jogador de futebol?
ADILIO: A pelada e tudo. E na pelada que você aprende a fugir de uma falta, a driblar em pequenos espaços, em jogar em campo ruim. O jogador aprende que não ter medo. A coragem surge nos campos de pelada.
Você passa a respeitar e ser respeitado. Muitas vezes um atleta sem esta formação acaba cometendo pequenas besteiras nos campos de futebol anos mais tarde quando se profissionaliza porque não teve esta base.
União, respeito ao trabalho em equipe e determinação são desenvolvidas diante das dificuldades que se encontra nestes campinhos de pelada
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FLAPEL: E para a sua formação como atleta, a pelada ajudou?
ADILIO: Demais! Foi jogando desde pequeno que eu aprendi a respeitar os limites meus e dos meus adversários. Na pelada você se impõe e aprende todas as malandragens que são necessárias no campo. A fugir de faltas violentas, inventar saídas para situações difíceis, tabelar rápido, pensar em velocidade, enfim, você aprende tudo que precisa para ser um craque de bola.
As escolinhas mais tardes vão ajudar a aperfeiçoar estas coisas dentro das regras e táticas do jogo.
Juro para você que quando eu as vezes passava a bola para o Zico no Maracanã me lembrava na verdade dos passes que eu dava nos campinhos de pelada da Cruzada São Sebastiao e na Favela do Pinto.
Meus sonhos ali se tornavam realidade.
Quando eu cheguei no Flamengo, pulando o muro para jogar peladas na Gavea, conheci logo o futebol competitivo. Quando entrei para a base trouxe comigo o que eu tinha aprendido nas ruas, nas peladas da Cruzada onde fui criado.
O Julinho (Julio Cesar) que também jogou muita pelada comigo na rua já estava por aqui também (Gavea) e a gente junto acabou melhorando muita coisa.
A pelada ajuda também a você respeitar os amigos e entender a importância de se manter o respeito entre todos. Meus maiores amigos foram sendo juntados pelas minhas peladas. Grande parte deles ainda hoje esta comigo.
FLAPEL: Qual o recado que você deixa para os peladeiros da FLAPEL?
ADILIO: Que mantenham este grupo jogando sempre baseado na alegria e amizade. A pelada e uma área de lazer importante onde os amigos podem estar juntos e se divertindo. E quando forem envelhecendo, levem seus filhos. Assim a amizade se mantem viva e a pelada também. E lembrem-se de que são privilegiados pois estão tendo a oportunidade de jogar dentro da Gávea a casa do Mengao. Quem não queria estar aqui?
A FLAPEL se orgulha de ter o craque batendo bola em seu campo.
SRN